sábado, 5 de fevereiro de 2011

A descoberta!

UNESCO Aplaude Projeto de Professor da COPPE que Reduz em 50% o Custo da Construção Civil

Professor Casanova em seu laboratório

O Professor da COPPE/UFRJ, Francisco Casanova, foi parabenizado por mais de 1400 pessoas, presentes à Reunião Anual da UNESCO, realizada no mês de outubro, em Paris. Após apresentar o trabalho que há anos desenvolve na COPPE, denominado Auto - Construção para População de Baixa Renda, que diminui em média 50% o custo da construção civil, o professor foi aplaudido de pé na sede da instituição. Entusiasmados com a aplicação da técnica em favelas e bairros da periferia do estado do Rio de Janeiro e atentos ao benefício que esta pode trazer à população de países pobres com alto índice de déficit habitacional, membros da Diretoria da Unesco demonstraram interesse em firmar um convênio com a COPPE para possibilitar a utilização deste método em outros países.
O projeto do Professor Casanova foi o único selecionado, entre os 400 trabalhos provenientes do Brasil, para ser apresentado nesta reunião. Até o final deste mês uma reportagem sobre o pesquisador da COPPE e seu projeto será publicada na Revista da Unesco, que circula em vários países e é traduzida em 120 idiomas.
Solo e Cimento
Inspirado nas possibilidades técnicas e econômicas de antigos métodos, o Prof. Francisco Casanova, aperfeiçoou uma técnica de construção batizada de solo-cimento, capaz de diminuir o custo de construção de uma casa em até 50%, utilizando o próprio solo e um pouco de cimento nas fundações e na confecção de tijolos. A mais recente experiência com este sistema de construção vem sendo realizada na favela do rato Molhado, na baixada fluminense. No município de Cabo Frio já foram construídos 14 sobrados de dois andares a um custo de apenas 172 reais o metro quadrado e em Santa Catarina o Professor apoiou tecnicamente integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST). Cada uma das treze casas de 70 m2 construídas custaram em média R$ 2.500,00 ( dois mil e quinhentos Reais). Para os incrédulos, descrentes de que uma casa de tijolo possa ser erguida com apenas esta quantia, o professor garante que o processo de confecção dos tijolos é muito simples, mas tem que ser monitorado. A proporção de cimento varia entre 5 e 10%, dependendo da consistência do solo, logo a massa deve ser corretamente colocada em prensas manuais ou hidráulicas e compactada. Após serem retirados da prensa, os tijolos devem permanecer num ambiente úmido, sem vento e sem sol, durante uma semana. As peças são produzidas para serem simplesmente encaixadas uma nas outras, dispensando o uso de argamassa.
Vantagem Econômica
"A grande economia gerada pelo solo-estabilizado reside no ganho de tempo. A obra leva metade do tempo para ser finalizada em relação à alvenaria convencional", afirma o Prof. Casanova. Uma casa de 50m2, utilizando métodos comuns, por exemplo, leva 60 dias para ficar pronta. Se fosse construída utilizando a técnica do solo-cimento, levaria apenas 40 dias. Na ponta do lápis, se na obra são utilizados os serviços de um pedreiro e dois serventes a R$100 por dia, a economia é de, no mínimo, R$ 2 mil, ou seja, 33% só em mão-de-obra. Segundo o pesquisador, o solo-cimento tem como vantagens adicionais oferecer um conforto térmico e acústico muito superior ao das construções convencionais e o local de obra é muito mais limpo, pois gera muito pouco entulho.
Outro fator que torna o tijolo barato é a economia de energia na sua produção. Para se ter uma idéia, mil tijolos de argila queimada (o tijolo tradicional) precisam de 1 m3 de madeira para ser produzidos, o que equivale mais ou menos a seis árvores de porte médio. O custo do frete também pode ser eliminado, pois o solo do próprio local da obra pode ser utilizado na confecção dos tijolos. Uma outra vantagem ainda é que ao contrário dos tijolos de argila queimada, que quando quebram têm que ser jogados fora, os de solo-cimento podem ser moídos e reaproveitados.
Questão Social
Alunos do Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, vem dando suporte técnico gratuito aos moradores da Favela do Rato Molhado, em Duque de Caxias, treinando-os para construir as próprias casas com a técnica do solo-cimento. "É uma amálgama entre arquitetura, engenharia, tecnologia e liberdade social", explica o professor. Casanova também chama a atenção para o inusitado da aplicação desta técnica, que tem sua origem nos métodos utilizados nas primeiras habitações, e no entanto, redefinida, tornou-se uma opção para solucionar o déficit habitacional na virada do milênio.
Atualmente a ONU estima que, para satisfazer as necessidades mais elementares de moradia no mundo até final do ano 2000, serão necessárias pelo menos 500 milhões de casas. "Baseado no atual cenário econômico-social, o solo se revela como o material com maior vocação para retomar o hábito de compatibilizar, harmonicamente, o projeto arquitetônico, os materiais locais e o sistema construtivo", pondera o pesquisador.
Eficácia Comprovada
Há pelo menos dez mil anos o homem utiliza o solo como material de construção. Como evidência destas técnicas, utilizadas intensivamente pelos gregos e difundidas pelos romanos, temos como vestígios edificações que estão de pé até hoje desafiando o tempo após milhares de anos.
No Brasil, cidades como Ouro Preto, Diamantina e Paraty têm em comum quatro séculos de história que testemunham o uso intensivo da taipa-de-pilão, do adobe, e da taipa-de-sopapo ou pau-a-pique. "O solo não é de modo algum um material estranho à nossa herança cultural. Pelo contrário, estas cidades atestam ainda hoje todas as possibilidades destas técnicas", afirma o Casanova.
Os métodos de construção utilizando solo foram intensamente utilizados até 1845, quando surgiu um novo material, o cimento Portlant. A partir de meados do século XIX, o solo começou a ser visto como material de segunda categoria e passou a ser utilizado, quase que exclusivamente, nas áreas rurais. "Um grande equívoco", lamenta o pesquisador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário